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Reserva Natural das Ilhas Selvagens, Madeira, Portugal

O conjunto das Ilhas Selvagens se divide em dois: um ao nordeste, abrigando a ilha Selvagem Grande e suas ilhotas satélites; e outro ao sudeste, onde a ilha da Selvagem Pequena e o Ilhéu de Fora reinam, cercados por menores fragmentos de terra. Fazem parte do Arquipélago da Madeira.

Para mais detalhes sobre a ilha, consulte O Que Visitar Na Madeira. Um guia de Funchal pode ser encontrado em Visitar Funchal.

Foram descobertas pelos olhos dos irmãos Pizzigani em 1394, mais tarde batizadas de “Selvagens” pelo lusitano Diogo Gomes de Sintra em 1438.

Ilhas Selvagens Madeira

Afastadas 250 quilómetros do manto africano e um milénio de quilómetros do berço europeu, estendem-se por 2,73 quilómetros quadrados, quase o triplo do tamanho do arquipélago das Berlengas (leia Visitar Berlengas).

As Ilhas Selvagens marcam o ponto mais a sul de Portugal, localizadas a 250 quilómetros do Funchal e a 165 quilómetros das ilhas Canárias, Espanha.

 Reserva Natural das Ilhas Selvagens – Primeira Reserva Natural do País

No seu alvorecer, estas ilhas eram terras pertencentes às Caravelas da Ordem de Cristo, herdeiros espirituais dos Templários em Portugal.

No século XVI, caíram nas mãos da ilustre família madeirense dos Caiados.

Ao virar do século XX, mudaram de dono uma vez mais, desta vez para o banqueiro Rocha Machado, em 1904.

Mas foi na década de 1960 que as ilhas capturaram a imaginação de Alexander Zino, um naturalista inglês com amor ardente pelas cagarras que ali faziam seu lar.

Zino, embora apoiado pelo Fundo Mundial para a Natureza, não conseguiu concretizar a compra dessas terras.

Em 1971, o Estado português tomou as rédeas e proclamou as Ilhas Selvagens como a primeira reserva natural do país.

Ilha Selvagem Grande

A Selvagem Grande, a maior ilha do conjunto, ostenta uma área de aproximadamente 5 km quadrados. Ela é a joia do Grupo Nordeste, que conta ainda com três ilhéus menores: Sinho, Palheiro do Mar e Palheiro da Terra.

Ilha Selvagem Grande

 As suas encostas são murais escarpados, adornados aqui e ali por grutas enigmáticas. Seu ponto mais alto é o Pico da Atalaia, com 163 metros de altura. Do seu ápice, avistámos o Pico de Teide na ilha de Tenerife ao sul.

Tem a distinção de ser a única ilha habitada ao longo do ano, guardada por dois vigilantes da Natureza que residem num alojamento modesta na ilha.

Desde agosto de 2016, dois membros da Polícia Marítima também estabelecem um posto permanente. E a partir de setembro, sua solitude é compartilhada com um membro da Capitania do Funchal.

 Ilha Selvagem Pequena

A Selvagem Pequena, também apelidada Pitão Grande, fica no sudeste da irmã maior. Seu modesto território estende-se por meros 20 hectares, um mosaico de zonas rochosas, dunas ocultas e uma praia de areia.

Poucos tiveram o privilégio de pisá-la. O presidente Cavaco Silva foi o primeiro chefe de Estado português a deixar suas pegadas nesta terra remota, em 2013.

Entre a Selvagem Grande e a Selvagem Pequena, medeiam uns solitários 15 km de atlântico.

Maior Colónia de Cagarras do Mundo

Nas entranhas das Selvagens, alberga-se a maior colónia de cagarras do mundo. Entre os acordes da primavera e o adiós do verão, aqui chegam para a arte de nidificar.

Antes dos anos 70 do século passado, as ilhas serviam de palco para uma caçada anual. Partiam do Funchal em setembro, com o intuito de capturar os juvenis de cagarra antes que alçassem voo para terras africanas.

Porém, com a declaração de reserva natural, essas sentinelas aladas encontraram asilo. Especialmente na Selvagem Grande, um éden resguardado, cada ave pondo apenas um ovo anual, como se fosse um tesouro frágil.

A Maior Área Protegida do Atlântico Norte e o Território mais a sul de Portugal

Em novembro de 2021, o Governo Regional da Madeira alçou as Ilhas Selvagens a um novo patamar de preservação, anunciando a génese da Maior Área Marinha de Proteção Total da Europa.

Ampliou a área protegida numa escala deslumbrante: de modestos 97 quilómetros quadrados, para uns impressionantes 2677 quilómetros quadrados de mar.

Mais do que mera extensão geográfica, essa decisão brota de rigorosos estudos científicos e jurídicos.

É possível visitar as Ilhas Selvagens?

O ingresso às Ilhas Selvagens é como uma chave de ouro, concedida apenas a uns poucos privilegiados e validada pelo Instituto das Florestas e Conservação da Natureza.

Tamanha restrição não é por acaso. É dos poucos baús de tesouros ecológicos no mundo. É um santuário natural, cuja integridade exige proteção.

 Ilhas Selvagens e Ilhas Desertas – ambas são da Região da Madeira?

Sim, embora irmãs sob a égide da Região Autónoma da Madeira, mas são entidades bem distintas.

Ilhas Selvagens

• Localização: A sul da ilha-mãe da Madeira, mais próximas do arquipélago das Canárias, quase como sentinelas avançadas de Portugal.

• Ecologia: Um importante santuário de aves marinhas.

• Turismo: Quase inacessíveis, são um bem guardado, esquivando-se do olhar turístico convencional.

 Ilhas Desertas

• Localização: A sudeste da Madeira, muito próximas da ilha da Madeira.

• Ecologia: Também refúgio ecológico, mas o seu astro mais luminoso é a foca-monge do Mediterrâneo, em vias de extinção.

• Turismo: Mais indulgentes com as visitações, permitido toque humano por passeios de barco, ainda que com rédeas curtas.

Tensões por uma das Maiores Áreas Protegidas do Mundo 

As Ilhas Selvagens têm sido, ao longo dos anos, alvo de contenda entre Portugal e Espanha.

Pese embora a proximidade geográfica com as Canárias, as Selvagens são uma extensão marítima da soberania portuguesa.

Em 1911, durante a I República, a Espanha fez ecoar uma nota governamental declarando a sua intenção de anexar as Selvagens ao seu arquipélago canário e erigir um farol.

Mais tarde, em 1975, cavalgando a onda de incerteza política em Portugal, um grupo de espanhóis aportou na Selvagem Grande e alçou a bandeira espanhola.

O xadrez político intensificou-se com a proposta portuguesa de extensão da Plataforma Continental.

Espanha contestou, em alto e bom tom, o estatuto de “ilha” conferido às Selvagens. Para Madrid, seriam apenas rochedos, e não dignas de uma Zona Económica Exclusiva (ZEE) de 200 milhas náuticas.

Se Espanha conseguisse tal reconhecimento, a sua ZEE ampliar-se-ia em 74 milhas marítimas, enquanto Portugal seria restringido a míseras 12 milhas a partir da sua costa.

Contudo, foi dada razão a Portugal, e assim Portugal tem uma ZEE de 200 milhas. Um império azulado salpicado com terras, assim Portugal está destinado.